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quarta-feira, 13 de abril de 2011

É melhor mesmo decidir a segunda partida em casa quando o gol fora de casa é critério de desempate?

Esse post é pra quem se interessa por futebol, uma das minhas paixões.

A Copa do Brasil encontra-se agora na fase de oitavas de final e no mês que vem a Copa Libertadores entra na fase dos jogos eliminatórios, chamados popularmente de “mata-mata”. Sabe-se que, nesses dois torneios, vale o chamado “gol qualificado”, que funciona da seguinte forma: se as duas equipes fizerem o mesmo número de pontos (dois empates ou uma vitória de cada), quem tiver feito mais gols fora de casa se classifica. Esse critério sempre existiu na Copa do Brasil e passou a vigorar na Copa Libertadores a partir do ano de 2006.

Historicamente, considera-se uma vantagem disputar o segundo jogo em casa, diante de sua torcida. Atualmente, o Cruzeiro comemora a excelente campanha como o melhor time na primeira fase da Libertadores, o que, pelos critérios da competição, fará com que dispute todos os segundos jogos em casa. Já na Copa do Brasil, todos ficam ansiosos pelo sorteio que decidirá quem jogará em casa a segunda partida.

O meu time, o Vasco, disputará hoje o primeiro jogo das quartas de final no estádio dos Aflitos, em Recife, contra o Náutico. Eu, particularmente, não há vejo motivos para comemorar o fato de o time jogar a segunda partida em casa, pois há bastante tempo levanto uma questão: será mesmo vantagem jogar a segunda em casa diante da regra do gol qualificado? Ano passado fiz uma pesquisa sobre o assunto, que atualizei recentemente com os dados até 2010, cujos resultados são apresentados a seguir.

Para a Copa do Brasil, considerei todas as suas 22 edições, de 1989 até 2010. Computei apenas os jogos a partir das quartas de finais (total de 7 em cada edição da competição), uma vez que, nas fases anteriores, na maioria das vezes observa-se um confronto “grande contra pequeno”, com o grande decidindo em casa, então haveria certo viés na estatística. Para a Copa Libertadores, utilizei os dados a partir de 2006, quando passou a valer o critério de desempate do gol qualificado. Por considerar que, nesta fase, as equipes já estão razoavelmente niveladas, considerei toda a fase de “mata-mata”, das oitavas de final para frente (14 jogos em cada edição, pois no jogo final o gol qualificado não se aplica).

Abaixo, apresento um resumo dessa análise. Os dados compilados estão em uma planilha EXCEL, que posso enviar aos interessados no estudo. Todos os dados foram obtidos a partir do site http://www.bolanaarea.com, que contém um histórico de várias competições no Brasil e no exterior.

Libertadores
Total de confrontos: 73  68 (= 5 x 14 – 2, pois não houve dois confrontos em 2009 por causa da gripe suína)
Classificações do mandante do segundo jogo: 37 (50,68%) 35 (51,47%)
Classificações do visitante do segundo jogo: 36 (49,32%) 33 (48,53%)

Copa do Brasil:
Total de confrontos: 152 jogos (=22 x 7 – 2, pois não considerei os confrontos São Paulo X Corinthians em 2002, Vasco X Fluminense em 2006 e Vasco X Flamengo em 2006, todos disputados em campo neutro)
Classificações do mandante do segundo jogo: 76 (50,33%)
Classificações do visitante do segundo jogo: 75 (49,67%)

Vejam como os resultados são surpreendentes, parecendo terem sido feitos a mão: há uma igualdade (quase) absoluta entre as classificações dos mandantes e visitantes do segundo jogo nas duas competições. Observe que, no caso da Libertadores, o número de jogos é impar, então neste caso os dois valores não poderiam ser exatamente iguais.

Pois bem, a estatística indica que jogar a segunda partida em casa não traduz em nenhuma vantagem com esse tipo de regulamento que premia o gol fora de casa.

E vejam agora essa outra estatística, ainda mais surpreendente, compreendendo todos os jogos “mata-mata” nos 10 anos de Libertadores anteriores à mudança do regulamento (de 1996 a 2005), quando não havia ainda o critério de o gol fora de casa valer mais:

Total de confrontos: 148 (= 15 x 10 - 2, pois excluí os confrontos Corinthians X Palmeiras de 1999 e 2000, que foram em campo neutro)
Classificações do mandante do segundo jogo: 88 (59,46%)
Classificações do visitante do segundo jogo: 60 (40,54%)

É interessante notar que, com o regulamento tradicional, onde tanto faz um gol em casa ou fora de casa, aí sim a estatística mostra uma vantagem em decidir a segunda partida em casa. Nota-se que houve quase 50% a mais de classificações para o mandante do segundo jogo.

Qual seria a explicação teórica para esse fato? A minha argumentação parte do princípio de que o mandante do primeiro jogo acaba jogando 180 minutos “pra valer”: os 90 minutos do jogo de ida (em casa), porque tem que “fazer o resultado”, e os 90 minutos do jogo de volta (fora de casa), pois sabe o resultado de que precisa e vai se comportar para obtê-lo. Por sua vez, o mandante do segundo jogo só joga mesmo pra valer o segundo jogo, já que no primeiro acaba jogando à “meia-bomba”. Ou seja, não tem muito ímpeto para atacar, mesmo quando o jogo lhe favorece, e às vezes até se acomoda com uma derrota de 1x0 ou 2x1, pelo fato de “ter o jogo de volta”. Essa diferença de comportamento, que é difícil mudar na cabeça do técnico e dos jogadores, acaba neutralizando a aparente vantagem de decidir em casa.

Um comentário:

  1. Houve um modificação (que não invalida as conclusões do estudo) nos dados da Libertadores com gol qualificado, pois no confronto final essa regra não é aplicada.

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